"A PRISIONEIRA" - PENÚLTIMO CAPÍTULO.
Quando Lídia descobriu o passado de Zepelin, ficou sem reação. Pois ele foi o homem condenado pelo crime cometido por sua prima, Sônia, em 1998. Além disso, o mesmo foi condenado por ter sido confundido com o traficante que era o portador da arma do assassinato. Ou seja, conforme o que Lídia apurou, era evidente que Zepelin queria vingança, bem como deveria estar cheio de ressentimento em relação à sua prima. Contudo, ele demonstrou ser uma pessoa madura, uma vez que as experiências negativas lhe ensinaram a relevar e, inclusive, perdoar os erros alheios. Sem contar que, nesse momento, estava realmente apaixonado pela mãe de Lídia, Carenina, disposto a recomeçar um novo romance. Assim, Lídia aproveitou para perguntar se a ex-mulher dele ainda estava detida? Zepelin respondeu que sim, uma vez que ela foi presa em flagrante por tráfico. Logo, Lídia ficou pensativa, olhou ao redor e teve medo de continuar dialogando com ele. Mas, após refletir, decidiu revelar toda a verdade. Primeiro, que Sônia foi mesmo a autora do assassinato de Marcelo e de Cássio, mas que não cometeu o ato por maldade. Segundo, que ela também fez algo condenável no passado, justamente contra a ex-mulher de Zepelin. Assim, este segurou forte no braço de Lídia, disse que esse era o momento certo de esclarecer tudo o que ficou para trás, e, desse modo, ela não precisava temer. Envergonhada, Lídia disse ter sido a autora da denúncia dos crimes da ex-mulher dele. Feito isso pelo fato de livrar Marco Aurélio, amante da mesma, da possibilidade de ela tirar Heleninha, ainda bebê, dos braços dele. Estarrecido, Zepelin soltou as suas mãos dos braços de Lídia, andou ao redor, retornou a ela e disse não compreender a motivação. Assim, Lídia esclareceu ter agido dessa forma com o intuito de, em troca, Marco Aurélio e a mãe dele, Fabíola, pararem de extorqui-la com dinheiro. E ironicamente, uma situação que se repetiu agora. Uma vez que Sônia também se viu extorquida pelos mesmos quando decidiu adotar Heleninha. Ainda surpreso, Zepelin concluiu a ironia do destino, bem como as circunstâncias que levaram todos eles a se unirem. E disse que agora entendia o ato de Lídia, não a condenado por isso. Emocionada, Lídia acariciou o rosto dele, disse que agora faria questão de incentivar a sua mãe a se casar com o próprio, mas que necessitava pedir um último favor. Zepelin ficou confuso e Lídia implorou para ele não entregar Sônia para a policia antes de ela mesma confessar o seu crime do passado. Embora relutante, Zepelin sorriu para a sua futura enteada, a abraçou e jurou que não faria mais nada, por justamente ter certeza de que Sônia mesma teria a coragem e a necessidade de purgar o seu pecado.
Uma semana depois - A reforma da casa de shows de Rossi estava a todo vapor. Ele estava animadíssimo e bastante esperançoso do sucesso da sua nova empreitada. Feliz, também, porque agora sabia que tinha a garantia da guarda de Heleninha, uma vez que as pessoas mal-intencionadas que a criaram já estavam presas. Sônia, contudo, apesar de ter revelado de quem Heleninha era filha, bem como o que foi capaz de fazer para adotá-la, ainda não havia tido estômago, cabeça e mente fresca para relatar ao seu marido o crime que cometeu no passado. Mas sabia que isso era inevitável. Pois Lídia havia lhe dito a conversa franca com Zepelin, o passado surpreendente dele e a certeza de que ele não havia guardado ódio por ter sido acusado no lugar dela pelo assassinato de Marcelo e de Cássio. Desse modo, quando encontrou Rossi na casa de shows, conversando com alguns marceneiros, pediu para ele sair mais cedo do trabalho, sair com ela e Heleninha até o Parque Barigui e verem o anoitecer do dia. Mesmo intrigado, Rossi concordou.
O fim da tarde foi perfeito e, ao mesmo tempo, um presságio. Sônia e Rossi levaram Heleninha para se divertir no local mencionado anteriormente. Ficaram de mãos dadas com a filhinha, enaltecendo a paisagem, repleta de árvores bem distribuídas, caminhando pelas estradinhas, sentando no quiosque para tomarem uma água de coco e contemplando esse momento lúdico, leve e familiar. Apesar do clima alegre, Rossi percebia, pelo semblante de Sônia, uma expressão interrogativa, sisuda e preocupada. Assim, os três foram embora no mesmo instante que o sol irradiava as suas luzes restantes, e, na noite belíssima, com uma lua cheia, convidativa para os românticos, ambos voltaram para a mansão, levaram Heleninha para dormir e foram caminhar pelas ruas próximas, dando início a uma conversa crucial.
Tudo o que Sônia relatou para Rossi, à medida que caminhavam, de mãos dadas, e olhavam a lua e as estrelas, foram sínteses de todas as revelações detalhadas pelo diálogo anterior entre Lídia e Zepelin. O diferencial aqui foi a reação catatônica de Rossi, que não conseguiu expressar uma resposta por vários minutos. Depois de recuperar-se do choque, não conseguiu controlar o choro. Sônia, culpada, disse que não gostaria de que seu marido e Martinha guardassem ódio pelo crime dela. Porém, Rossi não chorava por essa razão. Sabia que a atitude de sua mulher foi nobre e necessária, mas que tinha receio em vê-la sofrer numa penitenciária, ser condenada e ficar anos longe dele e de Heleninha. Assim, Sônia o abraçou fortemente, disse que isso infelizmente era inevitável, pois precisava reparar um erro grave. Sobretudo ao descobrir que esse erro fez com que Zepelin, um inocente, fosse preso no lugar dela. Por fim, ambos choraram muito, continuaram declarando o seu amor, e que, antes de ela se entregar para a polícia, precisava preparar Heleninha, bem como toda a família.
Após esse diálogo, Sônia contou com o apoio de Rossi, Martinha, Lídia, Carenina e Zepelin para preparar Heleninha para a sua ausência. Todos concordaram que seria pesado revelar para a menina, de apenas 8 anos, o crime que Sônia cometera em 1998. Contudo, Sônia, no dia-a-dia, foi conversando com a sua filha, dizendo que ela precisava se preparar para quando a mesma se ausentasse, e, sobretudo, pudesse ser forte para acompanhar Rossi nessa trajetória. Triste, porém compreendendo certas coisas, Heleninha sorriu para Sônia, disse que, mesmo ausente, não deixaria de amá-la, pois ter conseguido pais tão presentes e dedicados foi uma bênção maior do que o seu merecimento. Essa conversa ocorreu no quarto de Heleninha. Rossi, emocionado, escutou a conversa e o posterior abraço de mãe e filha. Sabia que estava chegando a hora. E que precisava acompanhar a sua mulher até a delegacia mais próxima da região.
No dia seguinte, numa tarde quente, ensolarada, distinta do clima curitibano, Sônia se aproximou da delegacia, acompanhada de Rossi. Encontrou Zepelin juntamente com Lídia e Carenina no outro lado da rua. Antes de subir ao recinto com Rossi e Zepelin, Sônia deu um abraço de despedida em sua prima e tia. Fez questão de pedir desculpas pelo tanto de sofrimento que causou por conta de sua covardia. Mas Lídia e Carenina a incentivaram, dizendo que nunca a julgariam negativamente por nenhum tido de atitude. Assim, Sônia subiu com os outros homens, decidida e encorajada.
No mesmo instante, na mansão de Martinha, esta ficou no local para cuidar de Heleninha. Essa, triste pela ausência de Sônia, perguntou para a outra se um dia voltaria a vê-la? Sensibilizada, Martinha pediu para a menina manter a calma, a confiança na vida, pois um dia, certamente, ela reencontraria a sua querida mãe. No tempo certo e determinado.
Por fim, Sônia, Rossi e Zepelin chegaram ao andar do delegado. Entraram na sala do mesmo e sentaram em cadeiras próximas. Encarando o delegado, Sônia não vacilou nas suas palavras. Esclareceu a sua motivação de ir ao local:
- Eu precisava ter tomado coragem há mais tempo. Mas a minha imaturidade e o meu medo me impediram.
- Sim, minha senhora! Mas o que você tem a dizer de fato?
- Um crime. Um crime que eu cometi há 17 anos. O famoso caso da morte de Marcelo Nunes e de seus comparsas. Fui eu, delegado, quem realmente os matou. O Zepelin, que está aqui do meu lado, foi preso no meu lugar, acusado injustamente. Foi condenado e já cumpriu a pena. Agora é a minha vez de pagar. Reparar o sofrimento que causei.
Clima tenso. O delegado olhou para o escrivão, que estava do outro lado. Depois encarou um policial civil que estava de pé, encostado na porta. E, por fim, observou Rossi, Zepelin, e, sobretudo, Sônia.
- Pois muito bem, minha cara. Vamos escrever a sua confissão. Com detalhes, causas e todas as circunstâncias que te levaram a esse ato extremo.
CONTINUA...
(Renan Fernandes)
Enviado por (Renan Fernandes) em 03/07/2015